terça-feira, 9 de março de 2010

Prefácio

Depois de ler e me entusiasmar com a história "Quando o amor traz problemas", publicada pela autora Renata Breder Calderón, senti uma grande vontade de criar um blog para contar uma história de maneira diferente! Quero muito q os leitores comentem os capítulos e digam se estão gostando ou não da historia, bem como palpitar sobre o futuro desenrolar do enredo! Para aqueles q gostam de ler "A Chave Perdida" será mais um daqueles livros de estimação. Para os que não gostam, ele representa uma apresentação ao mundo da leitura, já que a historia será divulgada aos poucos, aumentando, assim, o interesse e a ansiedade! Essa espécie de "CyberNovela" vai te deixar curioso... Abrass..!
Esse livro é dedicado para todos os meus amigos.

U. Q. Andrade
ATUALIZAÇÃO ÀS TERÇAS E SÁBADOS!!!
OS TRECHOS ATUALIZADOS ESTARÃO DESTACADOS DE VERMELHO PARA FACILITAR A LEITURA!!!


U. Q. Andrade


1.

Silêncio... o barulho de folhas levemente lambidas pelo vento toma conta do lugar. O sol, tímido, se esforça para fazer chegar ao chão, feixes de luz que são interrompidos pelos galhos. O cenário monótono, marcado por árvores tão parecidas, é, ao mesmo tempo, hipnotizador e belo. No chão, um tapete vermelho de folhagens secas parece anunciar que a vida, antes viçosa e verde, deu lugar a algum tipo de morte, e nesse ambiente fúnebre e mágico, coisas igualmente estranhas podem acontecer. O clima frio parece oferecer ao nosso cenário um pouco mais de suspense e magia, ornando com requinte o ambiente já sinistro por natureza.

Pelos espaços entre os galhos dava para perceber que o dia estava apenas começando. A brisa trazendo consigo um cheiro de mato parece brincar por entre os troncos, dando um pouco de vida aquele chão que se levantava gradualmente, lembrando o arrepio de uma pele tocada pelo vento. Caminhando por esse bosque, é difícil acreditar que alguém tenha decidido viver ali, em um lugar tão distante; mas, a mesma brisa que trouxe aquele cheiro de verde, carrega consigo um odor diferente daqueles encontrados na natureza. Rapidamente distingue-se que o cheiro é de café. No frio que faz aqui fora, automaticamente nosso olfato nos carrega até a origem do perfume, um lugar que mais parece um barraco do que uma moradia, propriamente dita. A curiosidade é grande e a vontade de usufruir da bebida quente é maior ainda, por isso convido ao leitor que cheguemos mais perto.

A chaminé do barraco expulsa um pouco de fumaça, confirmando as suspeitas de que ali se encontra o que procuramos. Pela janela fechada já possível perceber a presença de alguém dentro daquela cabana, uma sombra cruza a janela, a cortina se abre, um rosto aparece, mas ainda não é possível distinguir seus traços e características. O silêncio do bosque é quebrado pelo canto de um pássaro, que resolveu, timidamente, interromper todo o suspense que reinava nesse simples amanhecer. O momento de distração foi suficiente para que a porta se abrisse e de dentro daquela bizarra construção saísse alguém, rodeando a casa como quem procura algo. As roupas de frio compridas e o gorro não nos deixam tirar mais nenhuma conclusão sobre o que ou quem seria a figura que habita esse lugar inóspito.

A pessoa parece não ter pressa, anda pelo canto da casa, olhando para o chão e mexe num monte de lenha encostado na parede lateral. Depois de selecionar alguns pedaços e deixá-los ali mesmo, ela volta para dentro da habitação esfregando as mãos uma na outra e levando-as junto à face de modo a aquecê-las com o hálito morno. A porta se fecha e o silêncio reina soberano, novamente; e desta vez, o pássaro se omitiu devolvendo à cena seu ar de monotonia e tristeza.


"abre aspas"

s i l ê n c i o

" No decorrer da caracterização do ambiente, citei muito a palavra “silêncio”. E sim, gosto dela. Para dizer a verdade, o silêncio me fascina e sempre tentei entendê-lo; mais que isso: como uma pessoa que procura, com freqüência, racionalizar as coisas, fui atrás de uma teoria que pudesse explicar as diferentes sensações que o silêncio pode trazer quando vem à tona. Quem me conhece bem sabe que tenho minhas teorias acerca de várias coisas: “A democracia é uma bosta”, “Acha que esperou o bastante pra tomar uma decisão? Então espera mais um pouco”, “Cuidado com a inteligência anti-funcional”, “Você não nasce amando alguém, o amor se constrói a cada dia”, e muitas outras que não me canso de repetir para os meus amigos quando eles, num ato irresponsável e impensado, vêm conversar comigo e me pedir alguma opinião ou simplesmente alguma palavra de direção ou ajuda.

Pois bem, vamos ao que interessa! Não poderia deixar de criar uma teoria sobre o silêncio. E aqui está ela: “O silêncio é o medidor de intimidade entre duas pessoas”. Explico: Já te ocorreu estar conversando com alguém e de repente a conversa acabar? Silêncio total na mesa! Não se desespere, você não é um chato sem assunto; com certeza isso acontece com todo mundo e quase sempre o momento traz algum desconforto e aflição para se retomar o diálogo e continuar a conversação. Eu disse “quase sempre” e isso foi proposital, já que me perguntava: “Porque o silêncio é constrangedor quando estou com algumas pessoas e quando estou com outras ele é, simplesmente, mágico?”

Procurando na internet alguma frase para colocar no meu perfil do Orkut, me deparo com uma que dizia mais ou menos assim: “O ponto culminante de um relacionamento acontece quando duas pessoas estão perto e o silêncio não as constrange”. Voilá! Conclui, sem nenhuma dúvida que para algumas pessoas, o simples fato de estar perto da outra já basta. O calor do corpo, o cheiro, o olhar já são mais que suficientes... palavras são só detalhes! E por mais redundante que pareça, são detalhes pequenos e imperceptíveis. Disse, há um tempo, para uma amiga que para as pessoas que chegaram a esse nível de intimidade, o silêncio não atrapalha, pelo contrário, o silencio ajuda... e muito; só que até duas pessoas conquistarem todo esse afeto e carinho, é necessário falar muito também, conhecer o outro e aprender!

Em uma ocasião, alguém veio conversar comigo sobre seu relacionamento com outra pessoa; pensava em assumir algo mais sério, pois dizia realmente gostar desse indivíduo e, já que a afinidade era recíproca, as coisas pareciam se desenrolar para aquele fim: um namoro. Não hesitei em perguntar: “O silêncio os constrange?” Esse alguém respondeu: “Não.” Ousei afirmar com uma certeza bem grande: “Pode namorar sem medo!” Parece contraditório, mas o silêncio pode nos dizer muito mais coisas do que imaginamos.

E para terminar, façamos um minuto de silêncio para aqueles que ainda não puderam chegar ao nível máximo do “silenciômetro”. Abraços! "


2.

Ao se aproximar da habitação, é visível o descaso com que ela foi tratada nos últimos anos. Paredes sujas, lixo pelos cantos, mato crescendo por todos os lados e vidros manchados de poeira nos dão a nítida idéia de um lugar abandonado, não fosse pela fumaça e as luzes que vêm de dentro do local. Depara-se com uma pesada e rústica porta de madeira na entrada da casa, maçaneta enferrujada e superfície judiada pelas intempéries da natureza. A ansiedade de abrir a porta e ver o que há dentro do casebre é grande e a vontade de se achar um sofá, uma lareira e um café quente é muito maior. Não há motivos para não adentrar, a não ser pelo fato de que ali parece ser uma propriedade privada e residência de alguma figura um tanto esquisita.

Batamos na porta e esperemos, caro leitor. Ouve-se o barulho de passos na casa, tudo parece se desenrolar em câmera lenta. Um caminhar tão lento não pode pertencer a uma pessoa jovem, tampouco a um individuo que está no auge de sua forma física. Esse pensamento é interrompido pelo som da maçaneta se mexendo. A porta não está trancada e a ferrugem que se encontra no interior da peça a faz ranger ainda mais; a situação causa até um arrepio na espinha daqueles já tomados pela ansiedade e pelo frio. Abre-se uma fresta e um olho claro aparece, mostrando-nos alguns fios de cabelo branco caídos por cima da testa. Por um instante, um frio no estômago leva a uma ânsia de vômito quase incontrolável. O que seria aquela figura? Ou melhor, quem seria aquela pessoa? O que faria ali no meio da floresta? E porque moraria num lugar tão isolado? Será que mora sozinho? E aqueles olhos sinistros e penetrantes? Porque nos causam tanto temor?

Por um momento a vontade foi sugerir ao meu querido leitor que fôssemos embora, deixássemos o velho em paz, inventássemos outro bosque, quem sabe uma primavera colorida com pássaros e animais correndo por toda parte. Seria perfeito! Mas não! Temos o compromisso de desvendar essa historia atrás da qual nós mesmos fomos.

Os olhos continuam nos fitando, como quem diz: “O que querem comigo?”

E antes que disséssemos qualquer coisa, a porta se abriu e nos revelou um lugar totalmente diferente daquela realidade externa. Não havia sujeira, lixo e mato dentro da casa e o clima de tensão deu lugar a um conforto extremo. O piso era de tábua, incrivelmente brilhosa, as paredes de ripa de madeira davam uma noção de proteção e ao mesmo tempo de singeleza. Sofás aconchegantes, dezenas de almofadas coloridas com tons quentes, tapetes de pele e quadros que retratavam primaveras belíssimas compunham o espaço. Um grande e único lustre de madeira pendurado exatamente no meio da sala iluminava todo o local, oferecendo ao ambiente, ao mesmo tempo, simplicidade e sofisticação. E bem no fim da sala, um local que mais parecia um santuário, devido à magia e requinte que o coroava: uma lareira de tijolos vermelhos, queimados pelo uso constante. Bem na frente do fogo que ardia naquele momento, um tapete claro. Dos lados, poltronas de pele com braços de madeira pareciam convidar-nos para uma boa leitura ou conversa acompanhada de uma bebida quente e, talvez, alguns biscoitos de chocolate.

Deslumbrados com o ambiente que nos era apresentado, quase esquecemos que a pessoa que havia aberto a porta estava do nosso lado. Devagar e cautelosamente abaixei o rosto e comecei a fitar a figura de baixo para cima.

Pelos sapatos antigos, mas incrivelmente lustrados dava para confirmar que quem os calçava era um homem de idade. Um jovem não usaria aquele tipo de sapato de couro estilo vovô, nem os conservaria tão limpos como estavam no momento. A calça era marrom escura e estava milimetricamente passada, estando ali graças a um suspensório preto que passava por cima de uma camisa xadrez que combinava perfeitamente com o conjunto. Era esse senhor dono de uns 70 anos ou mais e carregava consigo uma barriga consideravelmente proeminente, que de maneira muito simpática e natural caía, na frente, pra fora da calça e era contida pela camisa de botões. A pele dos braços já mostrava bons sinais da velhice, estando levemente enrugadas. No dedo um anel de ouro com uma pedra na ponta poderá, futuramente, revelar algo mais sobre nosso personagem.

Por fim, tomamos coragem de olhar para o rosto do velhinho. E quando o fizemos, pareceu que todo o medo, angústia e ansiedade tivesse ido embora. Ele nos encarava com um sorriso fixo no rosto que penetrava e transmitia paz. A barba bem feita deixava à mostra as rugas que a velhice havia trazido para a simpática figura que nos encarava. Os olhos claros que antes nos assustava, agora pareciam espelhos que nos permitiam adentrar naquela alma; aprender, ouvir, chorar e sorrir. Aquele olhar risonho passava uma pureza enorme e transmitia segurança. Os poucos cabelos que restavam caíam sobre a testa e eram brancos como a pluma de um cisne que se deixava balançar pelo vento.

Depois desses momentos de êxtase, a voz suave e rouca do nosso anfitrião nos convidava a entrar. Ainda maravilhados com todo aquele mundo que nos rodeava, demoramos para perceber que o bom velhinho já dava boas risadas, divertindo-se com nossa cara de espanto e gozo. Aquelas gargalhadas eram contagiantes e logo fomos envolvidos pela situação, rindo juntos como se o conhecêssemos há anos e estivéssemos nos divertindo ao relembrar memórias de um tempo que não voltaria mais.

Tudo parecia perfeito, até que o velho fechou a cara, parou de rir, nos bombardeou com seu olhar; simultaneamente, bateu a porta e parou na nossa frente. Um arrepio nas nossas espinhas e uma sensação fria no estômago culminou numa terrível ânsia de vômito, novamente. Porque o velho parou de rir e nos olhou daquela maneira? O que faria conosco agora?

Subitamente, colocou as mãos na cabeça, atrapalhando seus poucos cabelos e gritou:

- Os biscoitos! Estão no forno e já devem estar prontos.

Correu, mesmo que com certa dificuldade, para a cozinha e nos deixou sozinhos na sala da lareira, quase sem ar por causa da situação que acabávamos de passar. Retiramos nossos casacos e os penduramos numa cabideira que havia do lado da porta, pois o clima dentro da casa já estava agradável. Para recuperar o fôlego foi melhor se assentar em um daqueles aconchegantes sofás e respirar fundo. Parecia que estávamos tensos demais e qualquer movimento um pouco suspeito já era motivo para grandes emoções, medos e desconfortos. Continuamos a admirar cada detalhe daquela sala e descobríamos, aos poucos, vestígios bem interessantes do passado daquele senhor que nos recebia em sua cabana.

Ouvimos uma voz vindo de um outro cômodo:

- Meus queridos hóspedes, venham me ajudar a tirar os biscoitos da forma. Estão quentinhos e já podemos ir degustando alguns.

Antes que o velho terminasse a frase, já estávamos do seu lado, naquela cozinha, retirando os biscoitos da forma e colocando-os na boca.

- Ei! Vamos com calma. Vocês têm a manhã inteira para comer os biscoitos, além disso, suponho que queiram saber um pouco mais de mim, não é verdade? Guardem alguns desses petiscos para comermos com o café que acabei de preparar.

Aquelas palavras nos deixaram um pouco sem graça, quando percebemos que já havíamos comido uma forma inteira em poucos segundos. Mas ficamos um pouco aliviados ao saber que o velhinho não se importaria em tirar algumas de nossas dúvidas a respeito de sua vida. Não que fosse de nossa conta saber seu passado, mas tínhamos certeza de que havia algo realmente interessante na história daquele homem. E que mal há em perguntar, já que ele mesmo tocou no assunto, não é mesmo? E por onde começaremos? Tentamos refazer nosso trajeto até a casa e relembrar tudo o que havia acontecido, talvez assim poderíamos encontrar algum jeito de começar a conversa. Naquela hora veio a nossa mente, a cena em que batíamos na porta e, logo depois, o velho vinha abri-la. Há um ponto muito interessante a que o leitor não deve ter dado importância: a porta não estava trancada e isso é estranho, já que naquele lugar tão distante seria muito importante se preocupar com a segurança. Perguntamos ao velho, que agora retirava do forno a última remessa de biscoitos, se ele não se sentia mal em deixar a porta destrancada. E enquanto segurava a forma, começou a dizer

- Mas que pessoas curiosas resolvi receber hoje, não?

Colocou a forma na bancada, retirou os óculos, nos fitou com seus olhos claros e continuou:

- Sei que uma figura diferente como eu deve despertar algum interesse nos outros, mas porque acham que eu tenho uma historia marcante? A minha aparência ou minhas atitudes é que os fazem pensar assim? Não seria mais um preconceito que acabaram de criar nas suas mentes?

Deveríamos responder àquelas perguntas ou a intenção do velho era apenas nos bombardear com algumas verdades para que refletíssemos um pouco? E como sabia que havíamos agido preconceituosamente? Resolvemos não responder, abaixamos nossas cabeças e continuamos a retirar o resto dos biscoitos da última forma. Aquele ser que estava do nosso lado era um caldeirão de contradições: em um momento nos passava uma paz imensa, e num piscar de olhos era capaz de nos despir sem alterar o tom de voz. Talvez aquele olhar fosse realmente uma janela que nos deixava experimentar profundamente o estado emocional do velhinho, sem as artimanhas que, normalmente, usamos para disfarçar o que sentimos a fim de agradar às pessoas que estão a nossa volta. Talvez, a sinceridade viesse sempre à tona quando o senhor falava e nós, acostumados com um mundo tão politicamente correto, não estivéssemos acostumados com a verdade sem hipocrisia que saía daqueles lábios.

- Porque se calaram? Não devem estar acostumados a ouvir tudo o que precisam ouvir, não é mesmo? Quero que passem alguns dias aqui comigo. Quem sabe assim o velhote aqui não ensina pra vocês como é viver em um lugar tão agitado como essa floresta.

Essas poucas palavras nos pareceram bem idiotas, mas depois de tudo o que passamos antes, resolvemos agir naturalmente e fingir que tudo aquilo que ele disse fazia sentido, embora não estivéssemos convencidos disso. Continuamos calados, não tínhamos mais nada para fazer, pois já havíamos retirado todos os biscoitos. O velho já terminava sua parte e parecia esperar que disséssemos alguma coisa. O silêncio continuou. Novamente, a vontade era partir, mas o lado cativante do velho não nos permitia fazer isso.

- Viram só como precisam aprender algumas coisas? Garanto que acharam a frase que falei completamente idiota. E se acharam isso, porque continuaram estáticos? Mudos? Não conseguem mais rir de um velho doido? É tão difícil agir naturalmente?

Aquele discurso repleto de perguntas já nos irritava e aquela mania de deduzir o que estávamos pensando e depois “vomitar” certas verdades nas nossas caras estava nos incomodando bastante.

- Venham! Vamos para a sala, pois lá podemos conversar melhor. Acabei de me lembrar de uma história bem interessante e creio que vão gostar de ouvi-la. Não acho que ela tenha vindo até minha mente por acaso, então é melhor se prepararem para prestar bastante atenção no que tenho para contar.

Só nos restava segui-lo, afinal, estávamos na sua casa. O senhor nos levou para a lareira e á medida que íamos chegando perto, o ambiente ficava cada vez mais mágico e envolvente. Um leve cheiro de madeira queimada não chegava a incomodar, pelo contrário, mostrava a vivacidade do fogo ao consumir os pedaços mortos daquilo que um dia foi uma árvore. O fogo parecia fazer peripécias, formando imagens que desapareciam rapidamente: dançavam, brincavam e por fim se dissolviam em faíscas que desapareciam para dentro da chaminé. Sentamos nos sofás de pele e olhamos para o rosto do velho esperando que ele começasse o diálogo. Com a sua omissão, rimos e balançamos a cabeça de forma a demonstrar que aguardávamos uma reação dele.

- Pois bem, lá vamos nós de novo! Quero contar para vocês a história de um garoto. Um jovem como qualquer outro... ou não.

"abre aspas"

p r e c o n c e i t o

O "abre aspas" desse capítulo foi escrito por Hannah Abreu Badaró, estudante de 16 anos. Mora em Governador Valadares e sonha conhecer a Irlanda. OBRIGADO, HANNINHA PELA CONTRIBUIÇÃO!

"Penso que não existe um assunto que seja tão polêmico e tão discutido nos últimos tempos quanto o preconceito. E é sobre isso que, a pedido do meu amigo Ulisses, eu vim falar. E sabe... veio muito a calhar. De fato é algo que eu tenho pensado muito nos últimos dias, desde que eu recebi uma noticia que não cabe compartilhar por hora.

A nossa sociedade construiu muros em volta de determinados grupos como que para protegê-los das opiniões alheias. Para nós estudantes o maior desafio tem sido as cotas raciais implantadas pelas universidades federais. Particularmente, não concordo, e já digo por que. Não acho que os afro-descendentes sejam inferiores a qualquer outra raça, e, portanto merecem - e devem - disputar as vagas a pé de igualdade com os outros candidatos. Dar a eles essas vagas é dizer que talvez não consigam passar por seu próprio esforço. Mas quem disse que a população negra não tem acesso a educação de qualidade tal qual os brancos, os amarelos, os mestiços? Exemplo disso é o atual presidente dos EUA, Barack Obama que quebrou todos os tabus sendo negro e muçulmano!

No capitulo anterior, vemos o bosque como se “folhagens secas parecessem anunciar que a vida, antes viçosa e verde, tivesse dado lugar a algum tipo de morte, e nesse ambiente fúnebre e mágico” e olha que nesse momento, havíamos acabado de chegar lá. Fizemos o mesmo ao ver a casinha de madeira no meio desse ambiente sorumbático. E mais uma vez ao perceber o velhinho excêntrico que a habitava. Como fazemos muitas vezes na vida real, julgamos sem mesmo conhecer. Tiramos nossas próprias conclusões sem saber a historia por trás daquilo que vemos. Temos enfim, um PRÉ-CONCEITO.

As vezes, convivemos com pessoas e não sabemos sua historia, de onde vieram e quem elas realmente são. Fazemos com elas o que fizemos ao olhar aquela casa. Vamos agora pensar nela como uma pessoa que vemos todos os dias. Ao olhar, julgamos que ela esteja suja, abandonada e desvalorizada, mas quando nos atrevemos a nos aproximar, a conhecê-la em sua real essência, ela passa a ser outra aos nossos olhos. Passa a ser amável, convidativa, simpática, algo (ou alguém) que nós realmente gostaríamos de cativar e cultivar, como já disse Saint-Exupéry, em sua conhecida frase: “O essencial é invisível aos olhos” e mais tarde acrescentou “A gente só conhece bem as coisas que cativou”. Não que ela tenha mudado. Nós é que mudamos.

É preciso, portanto, tentar nos aproximar dessas “casinhas” que passam por nós a fim de fazê-la se sentirem amadas, acolhidas e a vontade o suficiente para que possam mostrar a nós e aos que a cercam, o seu interior lindo e aconchegante.

Abraços, Hannah."

(As opiniões e idéias expressas nessa seção são de inteira responsabilidade do autor do artigo)

3.

Aquele fim de tarde de outono mais parecia para Taylor um sonho. Estar ali, ao lado de Robert, naquele banco de praça, sozinhos estava, aos olhos dela, muito longe de constituir uma realidade. Mas eles estavam juntos. Ela podia abraçá-lo, podia senti-lo. Estavam, sim, mais juntos do que nunca. Essa cena não deveria ser tão irreal, afinal, ela era linda, popular e forte. Costumava conseguir o que queria e naquele momento, tinha em suas mãos o que mais buscava nos últimos dias: Robert Campbell.

Robert se sentia bem ao lado dela. Não era como as outras meninas com quem ele saía. Taylor era especial, interessante e... linda! Ele se divertia muito com as outras garotas, elas eram engraçadas, bonitas e extrovertidas, mas com ela era diferente, muito diferente. Robert era o típico sedutor, gostava de conquistar, escolher com quem ficar e depois, simplesmente, sumir. Mas, desta vez, ele não pôde escolher e muito menos conquistar; sequer passou em sua mente a possibilidade de desaparecer e deixá-la. Fora Taylor quem o seduziu.

- Robert, você jura que não vai me deixar como faz com as outras meninas?

- Hum... porque faria isso? – Robert não podia prometer que não a deixaria, ele se conhecia muito bem e sabia que nunca antes havia ficado com alguém por muito tempo, mas continuou – Você não acredita que eu te amo?

- Sim, acredito. Mas você não respondeu a minha pergunta.

- Não podemos mudar de assunto?

Nenhum dos dois falou mais nada enquanto estavam sentados naquele banco. Uma tristeza cresceu dentro da garota. Ela sabia que ele a amava, mas conhecia, também, a instabilidade de Robert e presumia que ele não era o homem mais fiel que ela havia conhecido. Mas a simples idéia de deixá-lo já dava um aperto no coração da menina. E mesmo estando juntos há apenas uma semana, Taylor já fazia parte de Robert. Eram duas pessoas que se fundiam pelo mesmo propósito, dois corações que batiam juntos quando se abraçavam. Depois de alguns minutos calados, ele se levantou e estendeu a mão para a linda garota. Ela o fitou diretamente nos olhos e ele desviou o olhar como se estivesse envergonhado por algo. A mão continuava ali na frente da garota que se recusava a pegá-la. Robert não deixaria uma garota ignorá-lo assim, por isso pensou em algo e falou com ironia:

- Me concede o prazer de me acompanhar nessa dança, linda donzela?

- Robert Campbell! – um sorriso começava a surgir no rosto da garota e por fim ela não conseguiu contê-lo e soltou uma gargalhada. – Mas aqui? No meio da praça? Você é louco!

- Sim, sou louco – e depois de uma pequena pausa, pegou no braço de Taylor e a levantou, dizendo – Sou louco por você!

A linda garota de Wilmington se sentia, realmente, amada. E eles dançaram, ainda que sem música, por algum tempo, sem se importar com quem estava olhando, sem se importar se aquilo parecia ridículo. O que mais importava? Robert a amava! Ela amava Robert! Só restava dançar, dançar, dançar... E rodopiando por entre os canteiros daquele jardim, encostada no peito dele, ela podia ouvir seus batimentos, podia sentir o calor que vinha de dentro da jaqueta dele. E Robert, também, podia sentir o cabelo dela balançar enquanto rodavam, podia sentir aquela mão fria que o apertava tão forte!

Divertindo-se com a dança, nem perceberam que a noite já havia chegado e que já era hora de Taylor estar em casa. Robert olhou no relógio enquanto conduzia a dança silenciosa e parou de repente:

- Taylor! Você não vai acreditar. Já se passaram dez minutos! – ele continuou com os olhos fixos no relógio, fazendo algumas contas e demorou um pouco para concluir – Se corrermos, chegaremos na sua casa com apenas 30 minutos de atraso.

- O suficiente para o meu pai não permitir que eu saia com você amanhã! – disse ela sorrindo melancolicamente.

- Então, vamos rápido! – gritou ele pegando na mão da garota e puxando-a pelas ruas da cidade.

Correram o máximo que puderam, mas o pai de Taylor já a esperava na porta de casa quando chegaram. Robert a deixou na esquina, beijando-a com pressa e sem fôlego por causa da pressa, deram o último abraço daquela noite e se despediram com uma rápida e desajeitada piscada. Ele esperou para vê-la entrando em casa com a cabeça baixa, seguida pelo pai, que vinha atrás balançando os braços e apontando para o relógio.

O Sr. Sandler, pai de Taylor não costumava ser a pessoa mais tolerante com quem ela tinha que lidar no seu dia-a-dia, sendo assim já sabia o que iria ocorrer assim que o pai fechasse a porta atrás dela.

- Muito bem, mocinha! Acho que alguém aqui me deve algumas explicações.

A garota parou, se virou e abaixou a cabeça. O Sr. Sandler era a única pessoa que conseguia provocar esse tipo de reação em Taylor. Forte e decidida, a menina não desviava os olhos de ninguém, a não ser quando seu pai pedia explicações, esperando dela justamente o silêncio. Mas, desta vez ela resolveu falar.

- Muito bem mesmo, mocinho! – disse ela levantando a cabeça e rindo para o pai. – O senhor quer explicações, não é? Bem, resumindo: Dancei, pai!

- Hum – foi o som que o pai fez antes de franzir a testa e completar. – Dançou mesmo, Taylor Sandler. Aproveite e vá dançando até seu quarto e só saia de lá quando eu te chamar para o jantar

Taylor percebeu que o pai não estava para brincadeiras e subiu as escadas calada, trancando-se no quarto.

Robert seguiu pelas ruas já mal iluminadas, indo em direção a praça, novamente. Passou em frente ao banco onde estavam antes e ensaiou um tímido sorriso ao se lembrar da namorada. Prosseguiu e não demorou a chegar à residência dos Campbell. A maior casa de Wilmington tinha as paredes formadas por grandes pedras, que estavam, em sua maioria cobertas por uma trepadeira, dando um aspecto nobre à famosa “Mansão dos Campbell”. Ele chamou até que um empregado veio abrir o enorme portão de ferro que havia na frente do prédio. Mais alguns metros e Robert chegou a sala principal onde procurou um sofá para descansar e pensar um pouco. Se lembrou da pergunta de Taylor. E olhando para o teto em forma de cúpula da sala da mansão, viu as coisas ficarem cada vez mais distantes, desfocadas e lentas. Adormeceu.

- Ah, amiga! Lindo, perfeito, maravilhoso, mas muito secreto. – falava Taylor ao telefone para sua melhor amiga, Susie. – Nós saímos, conversamos e você não vai acreditar: ele me chamou para dançar bem no meio da praça... e é claro que eu aceitei... sim, estou apaixonada e pronto. Papai está chamando. Amanhã a gente conversa na escola. Boa noite.
O jantar pareceu durar uma eternidade. Taylor ainda estava sem graça com o pai, que insistia em falar do atraso daquela noite.

- Você sabe muito bem do horário combinado, não sabe?

- Na verdade, não! – respondeu a garota brincando com a comida. – Não foi nada combinado, o senhor impôs sem perguntar minha opinião. E se quiser saber...

- Calada! Não quero saber. Isso já foi longe demais. Depois que começou a sair com aquele rapaz, você não tem me ouvido mais. Não vá achando que pode falar comigo dessa maneira. Sou seu pai, te sustento e a senhorita me deve respeito e algumas explicações, não acha?

- Já que perguntou... – resmungou Taylor, levantando a cabeça, tirando a franja da frente do olho e encarando seu pai – não! Não acho que te deva explicações. Respeito sim, mas explicações, não!

- Chega! – gritou o pai, se levantando – Te proíbo de se encontrar com esse rapaz.

- Faça como quiser, Sr. Sandler – debochou ela, levantando e correndo para o quarto.

Se jogou na cama e chorou. Sentia saudades da mãe. Porque ela a deixou? Porque foi embora sem avisar? Ela era tão nova e a única que entendia Taylor, a única que ouvia e chorava junto. Mas, agora, era uma estrela, aquela que brilhava mais, que piscava muito. Aquele ponto no céu lembrava os olhos da mãe, sempre grandes e brilhantes. Veio à cabeça da menina, o rosto dela pálido e frio com um véu em volta. Os lábios, antes vivos e vermelhos, agora se mostravam brancos e tristes. Alguém expulsara a vida daquele corpo. Talvez o brilho que havia na Sra. Sandler havia, mesmo, passado para alguma daquelas estrelas.

Taylor dormiu.

- Taylor, acorde! – gritou o Sr. Sandler da escada – Arrume-se e desça, pois o café já está na mesa!

- Sim, pai. Já estava acordada há algum tempo.

Apesar dos acontecimentos da noite anterior, ela estava radiante! Havia acordado disposta a mudar algumas coisas, ou melhor, fazer algumas coisas acontecerem. Nada demais diante do que ela era capaz. Afinal, influenciar, manipular e jogar fazia parte da essência da garota dos olhos dourados. Poderia começar contando aos amigos que estava saindo com Robert. Afinal, era verdade. Porque não dizer para todos?

Parou em frente ao espelho enquanto acabava de arrumar a franja. Se afastou para poder ver seu corpo inteiro. Taylor era realmente linda. Magra, alta e saudável. Tinha cabelos lisos com um tom entre loiro e castanho claro. Em cima da testa caía uma franja que a garota insistia em deixar por cima de um dos olhos. Olhos diferentes: não eram verdes, nem castanhos, na verdade, lembravam a cor do mel. Brilhantes, tão brilhantes que pareciam duas pedrinhas de ouro a piscar no sol. Usava, naquela manhã, um vestido branco, simples, que dava uma idéia de fraqueza e vulnerabilidade, contrastando com a verdadeira Taylor Sandler. Ela não era fraca e vulnerável, pelo contrário, era esperta e calculista. Naquela manhã mais parecia com um gatinho branco que esconde seu instinto de felino para conseguir o que deseja. Porém, a qualquer momento pode arranhar, morder e escapar pelo fundo do jardim.

- Pronta! – sussurrou a garota para si, pegando a mochila perto da cama.

Ao chegar à escola, viu logo a sua turma de amigos no pátio. Procurou por Susie, mas ela não estava ali entre eles. Aproximou-se. Estavam conversando Peter, Jessica e alguns outros alunos. Chegou devagar por trás de Jessica, colocando a mão nos olhos dela.

- Advinha quem é? – disse Taylor com entusiasmo.

- Deixe-me pensar – disse Jessica abrindo um sorriso – Seria a menina mais linda de Wilmington?

- Errou! – gritou Taylor, tirando as mãos dos olhos de Jessica – Sou eu, Taylor Sandler.

- Então, acertei! – resmungou Jessica.

- Não seja tão bondosa comigo, Jess. Todos aqui sabem que você é a morena mais bonita, maravilhosa e atraente desse lugar.

- Hum... – resmungou a morena antes de olhar no rosto de Taylor e dar uma gargalhada – Não acredito nisso, mas digamos que conseguiu fazer meu dia um pouco mais feliz!

As duas se abraçaram, rindo e demoraram para perceber que todos na roda de amigos haviam parado para assistir aos elogios das duas. Taylor se desculpou, cumprimentou os outros e puxou Peter e Jess para um canto.

- Vocês viram Susie por ai? – perguntou Taylor.

- Sim. – respondeu Peter com naturalidade. – Ela acabou de passar conversando com o tal do Robert, você sabe, o filho mais novo da família Campbell.

- Verdade! – disse Jessica com entusiasmo como se tivesse acabado de lembrar. – Eles já entraram na escola.

Taylor conseguiu controlar e esconder a ansiedade. Agradeceu com naturalidade a ajuda, despedindo-se dos dois amigos.

- Muito bem! Nos vemos no intervalo. – gritou a garota enquanto andava em direção a entrada do colégio.

O corredor da escola era branco e iluminado com os armários no lado esquerdo preenchendo toda a extensão da parede. No lado direito ficavam as salas da secretaria, diretoria e toda a área de finanças e administração da escola. O corredor se dividia em duas entradas: á direita ficava a biblioteca e á esquerda o grande salão do refeitório. Acabava em uma escada que levava ao segundo andar, onde ficavam as salas de aula.

Taylor andava rapidamente, olhando pelos vidros das portas, esperando encontrar Robert e Susie. Continuou apressada até chegar ao pé da escada. Para onde iria agora? Robert não era o tipo de pessoa que costumava freqüentar a biblioteca, por isso a garota se virou para o lado do refeitório. Andou até a grande porta: fechada e trancada. O sinal tocou e em cinco minutos as aulas começariam.

- É melhor eu ir para a sala. – disse ela para si.

Os três primeiros horários pareciam uma eternidade, mas, enfim, o sinal tocou anunciando que estava na hora do intervalo. Taylor desceu as escadas com pressa, sem responder aos conhecidos que a cumprimentavam. De algum modo, sabia que as coisas não estavam normais e que ela precisava se encontrar com Robert. Ao chegar ao refeitório, passou o olho pelo salão tentando achar o rosto do namorado e como não o viu foi para a mesa em que sentava todos os dias. A mesma turma que conversava lá fora, antes da aula, estava ali, mas, agora, alguns agregados em busca de popularidade se juntaram ao grupo.

- Encontrou Robert? – perguntou Peter sem grande interesse na resposta.

- Não... – disse ela desapontada – Tem certeza que o viu entrando na escola?

- É claro que tenho! Ou acha que não estou enxergando direito? – respondeu Peter com um sorriso estampado no rosto.

- E eu também o vi, Taylor. – completou Jessica – A propósito, porque tanto interesse em saber onde está Robert?

- É que... – gaguejou a garota – temos um trabalho de Física para fazer. É isso!

- Ah, sim! – disse Jess com sarcasmo – Um trabalho de Física! Interessante, amiga.

Peter e Jessica olhavam para Taylor esperando alguma resposta mais convincente, mas ela não tirava os olhos da azeitona que rolava com o garfo pelo prato. Espetou-a com o garfo e colocou na boca, levantando a cabeça e olhando por cima dos que estavam na mesa. E lá estava ele, perto da porta, em pé.

- Achei! – gritou a garota dos olhos dourados, levantando-se – Vou ali conversar com Robert sobre o nosso trabalho.

Saiu rindo, enquanto todos os olhares daquela mesa a seguiam pelo salão.

- Onde você estava? – perguntou Robert antes que Taylor chegasse perto dele.

- Onde eu estava? Estive no mesmo lugar que sempre estive às segundas-feiras. Foi você quem sumiu, não acha?

- É... – Robert concordou – Digamos que estava resolvendo alguns problemas por aí.

- Claro! – disse a garota pensativa – E, por acaso, Susie tem alguma coisa a ver com isso?

- Susie? – disse Robert assustado – E porque teria? Ela sabe alguma coisa sobre nós dois?

- Ela é minha melhor amiga. Porque não deveria contar? A propósito, ela também não apareceu até agora!

- Ela é sua melhor amiga... mas combinamos que nosso relacionamento interessa somente a nós dois... ninguém mais!

- Tudo bem, Robert! Não falo para mais ninguém... mas, até quando ficaremos assim?

- Não sei... deixe que o tempo nos diga. Por enquanto, já é mais que suficiente o fato de Susie estar sabendo.

- Ok... – resmungou Taylor desanimada – Vou manter isso em segredo... por enquanto, tudo bem?

- Sim. Conversamos depois! Volte para a sua mesa. Nos encontramos depois da aula.

Taylor se aproximou de Robert e parou.

- Ops! – disse a garota sorrindo – quase me esqueci: nada de beijos em público.

- Tchau, Taylor – ele abriu um sorriso sem graça – Você tem que ir agora!

Ela voltou para a mesa confusa e entediada.

- Vocês não acham que podem ter se enganado? Talvez não fosse Susie. – disse Taylor com a mão na testa – Robert não me disse nada sobre ela, além do mais, ela não apareceu até agora! Quem sabe não era alguém muito parecido?

- Espere! – disse Jessica enrugando a testa e levantando as mãos – Eu estudo com Susie desde quando entrei nesse colégio e sei muito bem distingui-la de qualquer outra pessoa.

- Eu também! – completou Peter.

- Me desculpem... – sussurrou a garota – Só estou um pouco confusa!

- Só não entendo porque todo esse interesse pelo Robert e pela Susie. – declarou Jess, colocando-se de pé para guardar a bandeja.

- Você entenderá, amiga! – Taylor sorriu e por um instante parou de pensar naquela historia.

"abre aspas"

p a i x ã o

O "abre aspas" desse capítulo foi escrito pela Aline Freitas. Ela é estudante e adora ler e escrever. OBRIGADO, LINE! :D

"Comecei a perceber com o tempo que costumo viver internamente. A utopia é bem mais fácil. Viver fantasiada de idéias sem complexo por tempo indeterminado, me entregar à uma imaginação de algo inexistente, sucumbir mentiras ilógicas, realizar desejos impossíveis, buscar um propósito do meu eu favorável. Sonhar, sonhar e sonhar. Sou completa por dentro. Porém, sem perceber, me entrego tanto, que entro em pensamentos “mal-vindos”. E quando dou por mim, torna-se complicado de encontrar a saída. Não é sempre que você pode controlá-los. Já ouviu falar de paixão?"

(As opiniões e idéias expressas nessa seção são de inteira responsabilidade do autor do artigo)

4.

- Taylor! – chamou o pai enquanto a garota entrava pela porta – Venha aqui!

- Sim, papai... – respondeu ela, submissa – Pode falar!

- No próximo domingo sua avó virá para jantar conosco e você sabe muito bem como tem se comportado ultimamente. Por isso estou avisando com antecedência para que você repense nos seus atos e esteja preparada para não me envergonhar neste jantar, estamos entendidos?

- Sim, pai... – ela falava com a cabeça abaixada – e como deveria me comportar nesse jantar para não envergonhá-lo?

- Você sabe muito bem! – disse o pai duramente – Peça a benção, sente-se, não fale enquanto mastiga e o principal: ouça com interesse as histórias que sua avó irá contar.

- As historias? – resmungou Taylor – Ela continua com essa mania?

- Receio que sim – o pai riu.

- Pai, – disse ela – de onde a vovó tira aquelas histórias tão estranhas?

- Bem, Taylor, ela costumava dizer que o mundo tem muito mais mistérios e aventuras do que nós sequer imaginamos. Talvez esse seja mais um desses mistérios: de onde vem toda aquela imaginação? – o pai deu uma gargalhada. Ele não parecia o mesmo Sr. Sandler da noite passada – De qualquer forma, escutaremos as histórias. Não quero que sua avó ache que não estou sabendo te educar. Quero provar que sou um bom pai!

- É verdade! Tentaremos desvendar esse mistério domingo á noite. – ela sorriu também – Agora, falando sério: o senhor não precisa provar isso para ninguém.

- Obrigado, minha filha. – ele a convidou para se assentar ao seu lado – Na verdade, tento provar isso para mim mesmo a cada dia que passa.

- Mas, papai, o senhor não precisa!

- Desde que sua mãe partiu, eu achei que seria impossível cuidar de você sozinho. E, realmente, não tem sido fácil. – uma lágrima escorreu pelo rosto do Sr. Sandler – Mas, agradeço por ser uma filha tão boa.

- Ah, pai, – as palavras sumiram, Taylor engasgou, apertou o maxilar, a vista se embaçou e as lágrimas correram pela face – eu te amo e a gente vai superar isso.

- Sim, nós vamos! – o Sr. Sandler se levantou, enxugou aquela única lágrima que, agora, chegava ao queixo e completou – Mas isso não muda o fato de você estar de castigo: nada de namoradinho e nada de sair esta noite.

Ela olhou para o pai, enxugando o rosto. O Sr. Sandler finalizou:

- Você vai superar isso!

Os dois riram e Taylor subiu para guardar a mochila.

i

Chegou ao quarto e ligou para Susie:

- Ei, amiga! – disse Taylor – Porque não me contou nada?

- Como assim? – indagou Susie – Do que você está falando?

- Devia ter me ligado avisando que não iria à aula. Você está bem?

- Sim... – houve uma pequena pausa – é que, na verdade, eu não queria te preocupar. É isso!

- E, por acaso, aconteceu alguma coisa?

- Não. – disse Susie, mudando de assunto – Nada demais! E, me conte: temos alguma novidade hoje?

- Susie, preciso que me diga o que está acontecendo. – insistiu Taylor – estou com um mau pressentimento e somente você pode me ajudar agora.

- Está acontecendo alguma coisa que eu não saiba? – disse a amiga assustada – E isso tem, realmente, algo a ver comigo?

- Olha, Susie, eu perguntei primeiro. Porque está desviando o assunto? Tem alguma coisa estranha acontecendo, não acha?

- Taylor, eu não sei onde você quer chegar com isso, mas, de qualquer forma, estou muito bem. Prefiro conversar pessoalmente e gostaria que você fosse mais clara da próxima vez! Tchau, amiga.

- Susie!

- ...

Taylor olhou para o velho telefone, indignada com a atitude da amiga e o colocou no gancho com força.

- Preciso falar com Robert... – murmurou Taylor para si – mas como farei isso sem meu pai saber? Enfim, penso nisso depois. Tenho que comer alguma coisa.

i

Enquanto isso, Robert chegava à Mansão dos Campbell. Assim que entrou no salão principal, um dos empregados pediu que ele fosse até a sala de estar. Quando passou pela porta, estranhou os olhares sérios de seus pais acompanhando-o até que ele se sentasse.

- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – perguntou Robert, franzindo a testa – Algum problema, pai?

O Sr. Campbell respirou fundo pretendendo começar. Já a Sra. Campbell mirava Robert com os olhos arregalados enquanto entrelaçava os dedos uns nos outros, visivelmente ansiosa.

- Bem, meu filho, – começou o pai – na verdade não temos aqui um problema, pelo menos, para nós, não há nada demais acontecendo. Mas não estamos certos de como você receberá a notícia que temos para dar.

- Vocês poderiam ser mais diretos? – disse Robert, impaciente.

- Não, meu filho, – disse a mãe – vamos com calma, meu bem!

- Ok! – Robert suspirou – Vamos com calma.

- Olha, meu filho, - começou o Sr. Robert – eu e sua mãe temos dedicado bastante tempo para resolver seus problemas, concertar seus erros e te dar todo o conforto necessário. Você não pode negar que temos dispensado toda a atenção que você precisa e prometemos que isso nunca vai mudar, aconteça o que acontecer, tudo bem?

- É isso mesmo, meu filho. – completou a mãe – Independente do que acontecer daqui para frente, faremos de tudo para não mudarmos nossa relação com você.

- Eu realmente não estou entendendo. – ele riu.

O clima tenso da sala foi interrompido por um empregado anunciando que a comida estava na mesa. No mesmo momento o telefone tocou. Era Taylor.

- Robert, você pode falar comigo agora?

- Sim, Taylor. Diga...

- Há alguma coisa errada acontecendo com Susie. Estou muito confusa. Meus amigos da escola disseram que você e ela entraram juntos no colégio, mas você não disse nada quando eu falei que ela não havia ido à aula, hoje cedo.

- Hum... talvez seus amigos tenha se enganado. Isso acontece ás vezes.

- Então, você está me afirmando que não viu Susie na escola, de manhã?

- Olha, meu amor... – Robert falou com uma voz suave – você parece um pouco nervosa. Que tal nos encontrarmos mais tarde? Poderemos conversar com mais calma, em algum lugar silencioso, só nós dois.

- Robert Campbell! – a garota se irritou – Porque não responde a minha pergunta? Você viu ou não viu Susie na escola, hoje?

- Taylor... – disse ele secamente – vou passar na sua casa mais tarde, tudo bem?

- Não! Esqueceu que cheguei atrasada ontem à noite? Meu pai me proibiu de sair com você hoje e, de qualquer maneira, só vamos sair depois que responder a minha pergunta.

- Combinado! – insistiu Robert – Passo na sua casa no horário de sempre. Também te amo! Beijos...

- Robert!

- ...

Taylor estava irritada, mais que isso, parecia que iria explodir a qualquer momento. Com a franja caindo por cima dos olhos, respirando fundo com aquele telefone na mão, olhava para o mesmo espelho que usou para se arrumar naquela mesma manhã. Pensou:

- Porque todos estão desligando o telefone na minha cara, hoje? – ela riu – Bem, parece que as coisas estão começando a sair do meu controle e isso não acontece frequentemente. É hora da verdadeira Taylor Sandler agir.

Calmamente, colocou o telefone no gancho, ajeitou o cabelo, encheu o pulmão de ar e sorriu. A gatinha de branco acabou de virar um tigre siberiano: silencioso, astuto e calculista.

i

Já estava escurecendo quando o carro de Robert parou em frente à casa de Taylor. A garota olhava pela janela, enquanto o namorado caminhava pelo jardim em direção á porta de entrada.

- Não, Robert! – pensou ela consigo mesma – Você deve estar ficando louco, meu pai vai te matar se você tocar essa campainha.

Ela desceu as escadas correndo para abrir a porta antes que o namorado chamasse. Assim que chegou, percebeu que o pai estava na sala; não tinha como sair sem que ele a visse.

- Pai, – disse ela – há dois esquilos no jardim e... não gosto de esquilos! Vou ali espantá-los. Isso! Espantá-los...

E antes que o pai se virasse para ouvi-la, abriu e bateu a porta, dando de cara com Robert, já com o dedo prestes a apertar a campainha.

- Louco! – sussurrou Taylor para o pai não ouvir – Você tem algum problema?

- Sejamos sinceros: ele não iria me matar, iria?

- Iria! – ela riu – Hoje, ele iria. Digamos que papai está com as emoções á flor da pele, hoje. Nada demais... o suficiente para te dar uma surra e colocá-lo para correr daqui.

- O que vamos fazer?

- Olha, eu estou apenas espantando esquilos! – Taylor colocou a mão na boca para não soltar uma gargalhada – Quer me ajudar?

- O que?

- Depois eu explico. Volte para o carro e espere.

Ela abriu a porta, entrou e a fechou rapidamente.

- Prontinho, papai! Esquilos malvados... ainda bem que consegui espantá-los, imagine só se algum resolve entrar no meu quarto á noite e... sei lá o que estas coisinhas são capazes de fazer, não é mesmo?

- Hum... – foi o barulho que o pai fez antes de tirar o jornal de frente do rosto e levantar uma das sobrancelhas – esquilos malvados, é? Ok... cada um com seus traumas!

Taylor riu sem graça e depois soltou uma gargalhada junto com o pai.

- Vou subir para o quarto. Devo estudar, ler alguma coisa e depois vou direto para a cama. Então, boa noite!

- Boa noite. Durma bem!

Subiu as escadas devagar e quando abriu a porta do quarto, deu um salto para trás ao ver uma pessoa sentada na sua cama. Pensou em gritar o pai, mas antes que o fizesse, uma voz conhecida sussurrou:

- Ei... acalme-se!

Era Robert.

- Mas, como... – ela gaguejou – como você conseguiu?

- Te assustei, não é mesmo?

- Que tipo de coisa você é? Eu digo... como pôde?

- Ora essa... – Robert riu – nunca percebeu que um dos galhos daquele carvalho quase encosta na sua janela? Foi fácil, para mim, subir nele e te esperar aqui. Concluindo, como você mesma disse: Taylor Sandler não vai sair de casa hoje!

Ela o mirou com desprezo, invejosa por ele ter sido mais esperto que ela.

- Na verdade, nunca havia pensado nisso, afinal eu tenho a chave da porta da frente. Mas, desde quando vem calculando e planejando maneiras de entrar na minha casa?

- Desde que descobri que seu pai é um assassino de namorados em potencial. – disse ele com sarcasmo.

-Ah, claro! – Taylor começou a andar pelo quarto de um lado para o outro, como se fosse uma detetive interrogando o bandido – e quando foi isso?

- Assim que comecei a ver a garota dos olhos dourados como uma namorada em potencial. – respondeu Robert na esperança de desarmar Taylor.

- Certo... uma namorada em potencial! Mas, namorar inclui honestidade, franqueza e verdade, não é mesmo? – perguntou Taylor olhando para o namorado sentado, através do espelho.

- Concordo.

- Concorda até que ponto?

- Como assim? – ele se levantou da cama.

- Deixe-me ser um pouco mais clara: parece que você concorda comigo até o ponto em que VOCÊ tem quer ser honesto, franco e verdadeiro. Ou já se esqueceu da nossa conversa pelo telefone?

- Olha, Taylor. – murmurou Robert encostando a mão direita no ombro esquerdo da namorada – Fico feliz que você seja tão honesta e franca ao ponto de jogar na minha cara que sou falso e desonesto. De qualquer forma, acho que isso não muda muita coisa.

- Não muda? Como assim? – ela virou de frente para ele inconformada.

- Não muda porque eu não estou a fim de mudar. Simples assim! – respondeu Robert friamente.

- Pelo visto vamos acabar esta conversa sem esclarecermos o assunto da Susie, não é verdade?

- É... – ele concordou com um pequeno sorriso – e isso foi um convite para eu me retirar?

- É você quem sabe! – ela falou sem pensar - A propósito, use a porta da frente, meu pai vai adorar saber que o meu namorado, aquele com quem eu não poderia sair hoje ànoite, entrou no meu quarto pela janela!

- Isso mesmo! – Robert levantou o dedo como se tivesse tido uma grande idéia – Não tenho nada a perder.

Ele abriu a porta do quarto e andou em direção à escada. Taylor não conseguia acreditar que ele realmente sairia pela porta principal, mas, instintivamente, o seguiu. Quando Robert desceu o primeiro degrau, ela o puxou para trás e os dois caíram no chão.

- Me desculpe pela queda. – disse Taylor rindo – Tomara que meu pai não tenha ouvido.

Ela o puxou para dentro do quarto, novamente.

- Você iria mesmo descer e falar com ele? – Taylor perguntou com os olhos arregalados.

- É claro que não! – respondeu ele com uma gargalhada – Eu sabia que você não me deixaria chegar até lá.

- Seu idiota! – ela riu também.

- E eu vou me retirando da sua residência antes que você volte a me bombardear com milhares de perguntas. – ele continuou rindo.

- Não ache que eu desisti. – ela voltou à seriedade de antes – Vamos ter essa conversinha novamente.

- E lembre-se: não deixe a janela aberta se não estiver esperando visitas. – ele ria, embora ela não estivesse mais achando graça daquilo tudo.

Robert saiu pela janela agarrando-se aos galhos da árvore. Em pouco tempo já estava arrancando o carro. Taylor esperou o veículo virar a esquina e desabou de costas na cama. Pensou:

- Ele conseguiu me cansar com essa conversa.

i

No dia seguinte, Taylor encontrou Peter e Jess na escola.

- Bom dia, senhorita Sandler – disse Peter brincando.

Peter era uma espécie de amigo super legal. Aquele perto de quem todo mundo gosta de estar. Engraçado, distraído e divertido. Tinha uma estatura normal, era magro, com um cabelo enrolado que o fazia parecer carregar um cachorro poodle preto na cabeça. E claro, a marca registrada: um nariz diferente, um pouco maior que o do resto das pessoas. Digamos que era grande mesmo. Enfim, ele era único, era simplesmente amigo!

- Bom dia, Peter! – respondeu Taylor – Oi, minha amiga gata.

- Olá, minha amiga mais gata ainda! – respondeu Jessica rindo.

Mas Jessica era realmente linda. Morena e sedutora, Jess possuía o corpo mais desenvolvido e atraente que o de Taylor, embora não tivesse o rosto tão belamente esculpido como o da garota dos olhos dourados. Tinha olhos verdes que contrastavam perfeitamente com o tom de pele e com o cabelo escuro, ondulado e comprido. Não era engraçada nem divertida, o que não quer dizer que não fosse uma pessoa interessante. Conseguia cativar as pessoas com seu jeito diferente e atencioso. Simplesmente seduzia. Era grande amiga de Taylor, mas não tanto quanto Susie. Jessica gostava de Peter, o melhor amigo para quem ela não conseguia se declarar.

- Gente! – Taylor disse alto – Tive uma ótima idéia agora: que tal organizarmos uma festinha qualquer lá em casa, nada demais. Convidamos os amigos mais próximos e vocês me ajudam a arrumar tudo, que tal?

- Ótima idéia! – gritou Jess.

- Não sei... – Peter resmungou pensativo – mulheres juntas, organizando algo, me assustam. Vocês sabem, histeria, fofoquinhas, TPM. Não acho a melhor idéia.

- Calado, Pete! – as duas gritaram juntas.

- Não disse? A opressão já começou. – Ele riu.

- Nem se eu pedisse para você assim de maneira bem carinhosa? – Jessica fez um biquinho, imitando um bebê, pretendendo convencê-lo com um pouco de drama. – Por favor?

- Não! Me convidem e eu serei o primeiro a chegar.

- Nossa... – Taylor reclamou – que amiguinho inútil nós temos, não é, amiga?

- Não! – Jess disse rapidamente – Ele não é inútil.

- Ok, ele não é. – concordou Taylor indignada pela amiga não conseguir disfarçar que estava apaixonada por Peter.

- Viu? Eu não sou inútil! – reivindicou ele.

Enquanto as garotas tentavam convencer Peter, uma borboleta azul voou de maneira muito suave perto deles. Era tão linda que os três pararam de conversar e começaram a segui-la com os olhos. Ela se aproximou do grupo e parou numa mesa ali perto. Taylor sempre foi especialmente encantada por essas criaturas minúsculas e frágeis. O inseto alçou vôo novamente, mas desta vez pousou no dedo da garota que o ergueu até a frente dos olhos, admirando cada detalhe das asas que se mexiam frequentemente. Com a mesma naturalidade de antes, a borboleta abriu e fechou as asas duas vezes e caiu do dedo de Taylor. Chegou ao chão e ali ficou, de lado, sem se mexer. Estava morta.

Taylor se abaixou e começou a cutucá-la, tentando ver se ela tinha realmente morrido. O animalzinho nem deu sinal de vida e Taylor levantou o rosto, olhando para os amigos desorientada e triste.

- O que aconteceu? – ela indagou.

- Morreu, não deu pra perceber? – respondeu Peter insensivelmente.

- É... – Jess refletiu – parece que sim.

- Meu Deus... – os olhos de Taylor se encheram de lágrimas – não foi minha culpa, foi?

- É claro que não, amiga! Agora, vamos. As aulas já estão quase começando.

Jessica teve que puxar Taylor e balançá-la para tirá-la daquele estado de tristeza e culpa. As duas saíram juntas e deixaram Peter para trás, pensativo com o que acabara de ver: uma borboleta morrendo bem no dedo da sua amiga. Ele juntou os materiais e olhou para o chão a fim de lançar um último olhar de piedade para o inseto. Para a sua surpresa, a borboleta não estava mais ali.

i

Quando Susie entrava na escola, assustou-se com uma mão forte e pesada agarrando seu braço e puxando-a para um corredor deserto. Era Robert e parecia furioso pela expressão do rosto no momento.

- Qual é o seu problema, garota?

- O que houve, Robert? – disse Susie dando um sorriso sarcástico e, ao mesmo tempo, sedutor.

- O que houve? – ele a agarrou pelos braços.

- É... – disse ela passando a mão nos braços dele – explique melhor.

- Não me encoste, sua vadia! – Robert falou com arrogância – Porque não me disse nada?

- Vadia? Sou sim... mas não preciso que ninguém me diga isso. Qual é o problema? Abra o jogo.

- Você sabia de tudo e não me disse nada! – ele balançava as mãos inconformado.

- Está falando do seu namorozinho com a menina dos olhos dourados? - perguntou Susie com cara de deboche.

- Sim... você sabia de tudo e mesmo assim... – ele parou – e, porque tanta ironia quando você falou da Taylor? Pensei que ela era sua melhor amiga.

- Não sei quem é mais ingênuo: você ou ela. Também nem sei como todos acham que ela é uma pessoa calculista e esperta. Para mim, é uma idiota que se acha a popularidade em pessoa.

- Você é, realmente, podre. – Robert fez uma expressão de desgosto e nojo.

- Você não pensou assim quando estávamos sozinhos na sala de vídeo da escola. Pelo contrário, parecia bem satisfeito com tudo o que fizemos.

- Cale a boca! Você devia ter me contado que sabia do meu namoro com Taylor.

- E, por acaso, isso mudaria alguma coisa?

- É claro que sim!

- Não. A situação continuaria a mesma: um cara pegando a melhor amiga da sua namorada. Ou seja, não sou tão mais suja e podre que você, meu lindo.

- Mas, se você sabia de tudo, porque se insinuou para mim e me levou para aquela sala?

- Olha, Robert... – disse Susie com mais seriedade – você é até um cara legal e você sabe, qualquer garota gostaria de fazer com você o que fizemos na sala de vídeo; mas não se iluda, isso não tem nada a ver com você. É tudo por causa de Taylor.

- Taylor? – ele olhou bem nos olhos dela – Não entendo! O que ela fez contra você? E, se você tem todo esse ódio por ela, porque se aproximou tanto?

- Olhe bem, você entenderá! – ela falava com uma grande naturalidade – Pelo menos uma coisa em Taylor temos que admirar: ela é popular. E é uma coisa tão mau assim eu me juntar a ela para subir um pouco socialmente? Acho que não! Foi puro interesse. E ela não fez nada contra mim, mas, realmente, me excitou o fato de ficar com o namorado dela. E como você era o namorado do momento, não tive escolhas.

- Eu não acredito que estou ouvindo isso! – disse Robert passando a mão no rosto enquanto Susie o olhava com sarcasmo.

- Acredite! – ela riu.

- Taylor não ficou convencida quando eu disse que não havia visto você na escola, ontem. Ela te falou alguma coisa?

- Sim. Ela me ligou e eu disse que não havia vindo à aula porque não estava bem.

- Temos que arranjar um jeito de ela não descobrir. – disse Robert pensativo.

- Temos? – o sarcasmo tomou conta da voz de Susie – Isso é um problema seu. Já alcancei meus interesses sociais e não preciso mais da Taylor.

- Você é...

- E, antes que venha o próximo adjetivo, é bom você lembrar que seu namoro está nas minhas mãos. – ela passou as mãos no corpo de Robert, novamente.

- Você vai contar para ela?

- Não pretendo. Porque você mesmo não faz isso?

- Não... – ele respondeu rápido – eu acho que estou gostando dela de verdade.

- Se estivesse amando, não a teria traído. – ela continuava acariciando Robert por cima da jaqueta de couro.

- Vou procurar uma maneira de resolver isso. Não vai me ajudar, não é?

- Olha, você fez o serviço muito bem ontem. Posso pensar melhor nisso se você continuar se encontrando comigo.

- Vou ser sincero: não foi ruim. – Robert riu – Posso fazer de novo.

- Bom garoto... – a garota apertou as bochechas dele.

- Agora, saia daqui!

Susie saiu do corredor quase pulando de alegria e deixou Robert sozinho, embriagado em seus próprios pensamentos.

- Eu não acredito que isso está acontecendo. Acabo de concordar em continuar traindo minha namorada para não terminar o meu relacionamento com ela, e isso é totalmente ridículo. Talvez eu não a ame mesmo. Susie... porque ela tinha que ser tão convincente? E porque eu tinha que ser tão idiota? E Taylor? Bem... Taylor não vai saber de nada mesmo. – os pensamentos foram interrompidos.

- Robert! – Taylor falou com entusiasmo, mas parou quando percebeu a tristeza estampada no rosto do namorado – O que houve?

- Nada, Taylor... – ele virou o rosto para esconder a expressão fechada – não tem nada a ver com você.

- Aconteceu alguma coisa?

- É claro que não! Só estou preocupado com alguns assuntos familiares... – quando Robert falou isso, parou por um instante e se lembrou da conversa com os pais que foi interrompida no dia anterior – sim, assuntos familiares...

- Robert, você não está bem!

- Estou sim. – se esforçou para passar um ar de tranqüilidade – E você?

- Estou bem, mas um pouco assustada. Acho que matei uma borboleta hoje.

- Uma borboleta? – ele riu.

- Qual a graça? – perguntou Taylor com as mãos na cintura.

- Desculpe-me... – ficou sério novamente – isso realmente te abalou?

- Sim... ela estava no meu dedo e, de repente, caiu no chão. Mortinha.

- Espere, porque se importa tanto com uma borboleta? – ele segurava o riso.

- Robert, é um ser vivo como nós – tinha um tom professoral – e merece respeito, não acha?

- Taylor, é só uma borboleta. Não vai fazer diferença.

- E como você me explica o fato dela ter morrido de uma hora para a outra, sem eu ter feito nada? Simplesmente, caiu do meu dedo. É, no mínimo, estranho. Ou melhor, assustador!

- Talvez tenha dado um ataque cardíaco. – Robert estava falando sério.

- Com certeza. – ela concordou sarcasticamente – Inclusive, o mundo está cheio de borboletas dando ataques cardíacos nos dedos das pessoas. Robert, isso não é normal. Fato!

- Tudo bem. – parecia envergonhado ao perceber que Taylor estava certa – Você parece entender mais de borboletas do que eu. Pergunte alguma coisa ao professor de Biologia, talvez ele possa te ajudar.

- Não vou contar isso a ninguém. – disse ela nervosa.

- Havia mais alguém com você?

- Sim... Peter e Jessica. Se quiser, pode perguntar para eles.

- Não quero. Acredito em você. – doeu, por dentro do rapaz, dizer essas palavras. Por mais absurdo que parecesse a história, ele realmente acreditava nela, mas sentia-se mal por não merecer a mesma confiança – Chegue mais perto.

- Apesar de não estar tranqüila quanto aos nossos problemas de ontem, confesso que te amo. – disse Taylor abraçando o namorado.

- Achei que tínhamos resolvido. – ele se afastou dela.

- Ainda não conversei com Susie.

- Faça como quiser. – ele beijou o rosto da garota, virou-se e saiu pelo corredor, deixando Taylor sozinha.

i

Na hora do intervalo, Taylor estava sentada com as pessoas de sempre. Passou os olhos pelo salão e viu Susie, entrando e vindo em sua direção. Quando os olhos se cruzaram, Susie deu um sorriso e correu em direção a amiga.

- Taylor! – ela gritou, abraçando a menina – Que saudades!

- Susie! - disse ainda agarrada a garota – Você não parece mal.

- Não era nada demais. Já estou bem melhor. – olhou Taylor da cabeça aos pés – E você está especialmente linda, hoje, sabia?

- Mentira. Estou normal.

- Ok... não vou discutir! – disse sentando e cumprimentando Peter, Jessica e os outros.

- Que bom estarmos todos aqui. – Taylor quebrou o clima de descontração, trazendo um ar de seriedade à mesa – Precisamos conversar.

- Sobre o que? – disse Peter, o precipitado.

- Já estamos conversando, Taylor. – disse Jessica.

- É verdade! – completou Susie.

- Precisamos conversar sobre um determinado assunto. Quem está mentindo? Vocês – apontou para Jessica e Peter – ou Susie?

- Do que você está falando? – perguntou Jessica.

- Eu não minto para você, Taylor. – disse Susie.

- Deixe-me esclarecer algumas coisas: ontem, Peter e Jessica disseram ter visto Susie entrando na escola com o meu namorado. Já Robert disse que não se encontrou com Susie e a própria Susie disse que não veio à aula. Da mesma forma, Peter afirmou que nunca confundiria Susie com ninguém. E então, não acham que existe algo estranho nessa história?

- O que? – Jessica estava com a boca aberta – Namorado?

- Desde quando você namora? – perguntou Peter.

- Isso é o que menos importa! – Taylor ficou furiosa. Havia contado que estava namorando sem perceber – Quero é que me respondam: quem está mentindo?

- Você sabia, Susie? – perguntou Jessica.

- Sim, Jess... Taylor me disse há algum tempo.

- Algum tempo? – Jessica estava inconformada.

- Eu estava quase contando, Jess! – disse Taylor tentando consertar o erro.

- Tudo bem. Todos têm seus segredos. – ela disfarçou a decepção e continuou – Mas, voltando ao assunto, aqui somos dois contra uma: eu e Peter temos certeza de que vimos Susie com Robert, quero dizer, com seu namorado.

- Você vai acreditar neles, Taylor? Eu sou sua melhor amiga, porque mentiria para você?

- Alguém está mentindo. – Taylor disse friamente – E, realmente, são dois contra uma, Susie.

- Eu não acredito que você não confia em mim. – Susie disse de maneira dramática.

- Confio, mas alguma coisa me diz que você está escondendo algo de mim.

- Espere... – Susie sorriu – se você decidir confiar neles, estará duvidando de mim, a melhor amiga e de seu namorado, Robert. Afinal, ele também não me viu!

- Errr... – Taylor ficou sem argumentos.

- Já te disse, Taylor, eu não sou cego e estudo com Susie desde criança. Sei muito bem distingui-la de qualquer outra pessoa. - Peter se defendeu com tranqüilidade.

- É Susie quem está mentindo! – uma voz masculina falou com força.

Os olhares se viraram para cima. Com a discussão, ninguém havia percebido que Robert estava em pé ao lado da mesa. Todos ficaram mudos, esperando que ele continuasse. Susie já havia ficado vermelha, estava de boca aberta e suava frio.

- Conte para eles, Susie, a história verdadeira. – Robert falava tranquilamente.

- Que história? – ela hesitou.

- Pode confessar... isso já deu problemas demais! – ele se assentou.

- Tu... tudo bem. – ela gaguejou.

- Diga tudo sobre o nosso plano de fazer um aniversário surpresa para Taylor, sobre as minhas dúvidas quanto ao que ela gostaria de ganhar, inclusive o presente que decidimos comprar. Acabe logo com isso. Conte tudo!

- É verdade... – Susie respirou aliviada – eu vim à aula, ontem.

- Eu sabia que você estava mentindo! – disse Peter.

- Não queria que você desconfiasse de nada sobre a nossa surpresa, mas você é esperta demais para ser surpreendida. – Susie continuou e começou a chorar – Agora não adianta mais... você já sabe de tudo.

- Ai, meu Deus! – Taylor ficou vermelha, começou a soluçar e, logo, já estava em prantos – Eu sou uma idiota.

- Não! – Jess discordou – Você não é idiota! Como você poderia adivinhar que se tratava de uma surpresa?

- E nós estávamos prestes a compartilhar tudo com Peter e com a Jessica – Susie falou de maneira bastante comovente e continuou chorando.

- Gente, me desculpem! – Taylor se levantou, com o rosto molhado e correu para fora do salão. Ignorou os amigos que a gritavam e saiu pelo corredor até entrar na antiga sala de vídeo, agora deserta. Jogou-se num canto e ficou ali até a aula terminar.

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"abre aspas"


a m o r b u r r o

O "abre aspas" desse capítulo foi escrito pelo bloqueiro Iuri Castro. O blog dele está nos meus favoritos e se chama Loud-Speakerz! Divirtam-se com a cômica abordagem. Vlw, Iurinhooo!

"Sinta-se honrado, você tem a presença do Iuri aqui: seu narigudinho preferido [?]. Não falo isso pro U. Q. Andrade, falo isso pra você, leitor! Então que se tenha início o assunto que vou falar: amor burro.

Eu gostaria de dizer que o U. Q. Andrade teve a mirabolante ideia de me pedir para escrever sobre esse assunto tão delicado e, ao mesmo tempo, tão fácil de se mexer, que acabou caindo em minhas mãos. Mas na verdade a gente tava num tédio total e nada vinha na minha cabeça. Queria escrever alguma coisa que me desse boas linhas de um texto legal, até achar esse! O que isso tem a ver com o que vou falar? Nada! Te pergunto agora: você já fez alguma loucura por amor? Duvido que você respondeu “não!” – se respondeu, ignore. Esse assunto me lembra uma propaganda da Pepsi (“O amor nos deixa idiota”), o que me deu muita inspiração pro assunto. Mentira, não tenho nada pra escrever até agora, tô te enrolando até agora mesmo. Por que a atenção de nossa amada (ou amado), mesmo que seja por poucos segundos, se torna uma coisa tão importante a ponto de nos fazer cometer idiotices? Será que o olhar de alguém especial vale tanto assim? O que leva uma pessoa a se vestir de coração e andar no meio da rua até a casa da pessoa que ama e fazer uma declaração de amor, sendo que ela nem prestou atenção, já que estava morrendo de vergonha da pessoa que a declarava? Idiotice natural ou amor?

Por mais que fingimos que não estamos fazendo aquilo, mas nós sempre damos um jeito de fazer isso. Falar mais alto, fazer gesticulações e simulações extravagantes e tudo mais – isso não vale para pessoas gritadeiras, tá Kézia? – tudo isso vale! Agora o mais massa é quando você tipo tenta não chamar a atenção dela, ou demonstrar que você não tem interesse nela. Você começa a quase excluir a pessoa, responder na base da ignorância. Bom, se você faz tudo isso para uma pessoa, mesmo que seja no inconsciente, parabéns, você é mais um burro que caiu na palhaçada do amor. Vejo o cupido como um grande comediante ou um carinha que faz stand-up, porque ele deve divertir a muitos com cada coisa que seus alvos fazem. Todos nós somos os alvos de seu teatro mágico de apaixonados em que, mais cedo ou mais tarde, seremos a estrela da vez. Muitas vezes as flechas do cupido tem efeito contrário. Entramos em depressão, vemos a nossa vida definhar tudo por causa de uma pessoa que não te ama, já que se ela te amasse não te deixaria naquele estado. Não vejo o porquê de mudar pra pior a minha vida só por causa de uma pessoa, mas isso é outro assunto.

Bem ignorante eu, né? Agora vou dar minha opinião sobre o assunto – sim, tentei ser o mais impessoal possível antes. Eu acho que as pessoas tem um porquê bem imenso pra poderes mudar uma vida inteira por causa de uma só pessoa. Claro se ela for uma pessoa que também te ama, amor platônico sucks (palavras vindas de uma vítima). O esquema é o seguinte: fique perto das pessoas que ama, ou da pessoa que ama e seja feliz."

(As opiniões e idéias expressas nessa seção são de inteira responsabilidade do autor do artigo)

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5.

Envolvidos pela história, nem percebemos que nossos estômagos já começavam a roncar. O nosso bom velhinho, percebendo nosso semblante de fome, parou a história e começou, de novo, a nos testar.

- Já entendi tudo! Meus hóspedes estão com vergonha de pedir os biscoitos que estão na cozinha. Preferem morrer de fome a quebrar as malditas regras de educação e boas maneiras. Vão continuar com os estômagos roncando,esperando que eu sinta a fome de vocês? Até quando pretendem agir como se dizer o que pensam ou o que sentem fosse me deixar constrangido, chateado, bravo ou envergonhado? O silencio de vocês é que me incomoda! Vamos lá, estou esperando...

Não fosse pela história que ainda temos que ouvir, levantaríamos e procuraríamos alguma lanchonete por aí, comeríamos lá, onde não temos que aturar tantas verdades. Simples: seríamos clientes, sempre com a razão, pagando e tendo o direito de receber o melhor tratamento possível. Mas, pensando bem, estamos bem no meio de uma floresta! De quem foi a péssima idéia de fazer um passeio por um bosque quase congelado? É claro que foi do querido leitor, sempre tão aventureiro e descobridor, que acaba nos colocando neste tipo de situação! Resolvemos pedir os biscoitos.

- Estão aprendendo. Em breve pedirão sem que eu os incite a fazê-lo.

Será que ele resolveu auto intitular-se nosso mais novo professor de ética e comportamento? De qualquer maneira, vamos ganhar os biscoitos de chocolate!

- Venham comigo até a cozinha. Quero que me ajudem a preparar nosso café da manhã.

Pensamos conosco como aquele velho poderia chamar os hóspedes que ele acabou de conhecer para ajudar no preparo da refeição. Será que ele nunca ouviu falar de etiqueta?

- Vocês devem estar um pouco ansiosos para saber o que acontecerá com Taylor, não é verdade?

Balançamos a cabeça, concordando.

- Ela ficou ali na sala de vídeo, chorando, lamentando-se e tomou uma importante decisão. Jurou para si própria que a partir do momento em que saísse daquela sala, não choraria de tristeza por causa de nenhum ser humano. Nunca mais! Choraria de emoção, de alegria, de saudade, mas nunca pelo fato de alguém tê-la deixado triste. E já que não choraria nunca mais de tristeza, ela aproveitou e derramou ali todas as lágrimas que conseguiu. E foi graças a essa força interior, que ela conseguiu enxugar o rosto, levantar-se e abrir a porta da sala de vídeo. Jurou proteger e honrar a cada pessoa que, de algum modo, a fez feliz e o mais importante: ela não julgaria ninguém pelo seu último ato.

Ficamos um tanto confusos. Taylor deveria estar envergonhada, desapontada consigo mesma e até mesmo desiludida com a sua situação. Perguntamos ao senhor, que agora colocava os biscoitos numa bandeja, como aquilo era possível. Bem em meio a uma situação péssima, alguém levantar-se decidido e restabelecido, traçando novos rumos e atitudes?

- Vocês já ouviram falar na fênix?

Balançamos a cabeça negativamente.

- Segundo a mitologia, a fênix é um pássaro que ao perceber que já está na hora de morrer, faz um ninho em um certo local e o incendeia. Ela morre bem ali, cantando melodias tristes e melancólicas. Morre queimada. Depois que o fogo se apaga, uma nova fênix renasce daquelas cinzas. Algumas pessoas são assim, em meio a situações tristes e, aparentemente, sem resolução é que elas tiram as maiores forças para renascer e alçar vôos cada vez mais altos.

Sim, ficamos boquiabertos com o exemplo.

- Outra lição para vocês, pobres criaturinhas do mundo globalizado.

Só porque ele mora no meio de uma floresta não quer dizer que possa nos ofender por termos nascido na cidade. Mas, o que podemos fazer? Estamos na casa dele. Ouçamos a lição.

- Sempre procurem renascer das cinzas! Ou seja, usem as situações aparentemente ruins a favor de vocês. É o tipo de problema que ninguém espera vê-los vencendo, que vocês têm que resolver com mais honra e determinação. Reciclem-se sempre!

Se o leitor concordar, pedirei ao nosso professor que cesse o momento de aprendizagem, afinal, não é correto conversar com a boca cheia de comida. Além disso, temos uma história para acabar de ouvir.

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"abre aspas"

t a l v e z

Espero que um dia você encontre por aí, todas as palavras que eu usei pra tentar te convencer do que eu sinto. Todos os papéis que eu amassei de raiva, por não conseguir escrever sobre isso. Todas as dores que me provocou. Todas as lágrimas que eu derramei de saudade e todos os sorrisos que usei quando me faziam lembrar de você. Todos meus desabafos. Todas às vezes que eu tive vontade de ir até você e falar tudo que estava me matando. Todos os abraços e beijos que eu guardei. Todos os dias que eu perdi, tentando fazer você me notar. De um jeito diferente. Todas as cicatrizes que se formaram com o tempo. Talvez o vento traga tudo isso pra você. Talvez nunca perceba tudo que já me fez sentir. Mas todas as lembranças vão sempre pesar dentro de mim.

Aline Freitas

(As opiniões e idéias expressas nessa seção são de inteira responsabilidade do autor do artigo)

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6.

Taylor foi para casa, sentindo-se muito bem e começou a organizar os preparativos para a festa sobre a qual tinha comentado com Peter e Jessica. Obviamente, ela esperava que Robert ligasse perguntando se ela estava bem e o porquê de não tê-la visto mais na escola. Até o momento, ele não havia dado nenhum sinal de vida.

Ela queria aproveitar a noite do sábado em que o pai iria buscar a avó para fazer a festa. O Sr. Sandler iria passar a noite fora e quando chegasse com a avó, tudo já estaria limpo e o pai não desconfiaria de nada. Seria algo simples, mas marcante! Já que ela mesma havia estragado sua própria festa surpresa, essa seria uma boa oportunidade de fazer uma comemoração adiantada. Faltava ainda conversar com Jessica e distribuir algumas tarefas. Falaria com Susie no dia seguinte, já que não teve tempo de comentar sobre esse assunto.

- Pai! – disse Taylor descendo as escadas – Não vou comer em casa hoje. Me sinto tão feliz que quero passear um pouco e, talvez, comprar alguma coisinha na rua.

- Que tipo de coisinha você pretende comprar?

- Ah, pai... – ela não podia contar sobre a festa – coisas de Taylor Sandler!

- Não gosto que você esconda nada de mim!

- Não posso contar! – já disse fechando a porta – Tchau, paizinho querido.

- Pelo menos desta vez não se trata de esquilos assassinos.... – o Sr. Sandler murmurou para si próprio e riu sozinho ao se lembrar da noite anterior.

- Eu ouvi isso! – a garota apontou a cabeça pela greta da porta – respeite meus medos!

Ela começou a rir com o pai que se levantou, dirigindo-se a cozinha para preparar algo. Taylor aproveitou a deixa para sair. Foi a pé até a praça e se assentou em um dos bancos de madeira para descansar e pensar um pouco. Resolveu passar na casa de Robert para pedir desculpas pelo que havia ocorrido e contar sobre a festa do final de semana. Chegou até a Mansão dos Campbell. Ao contrário da grande maioria dos habitantes daquela cidade, Taylor achava a mansão horrível, sem graça e arcaica. De fato, a arquitetura não era das mais modernas, mas ninguém podia passar em frente da casa sem sentir a idéia de poder e riqueza que o edifício ostentava. Chamou e foi atendida por um empregado magro e fraco com um bigode ralo que pediu que ela esperasse na grande sala principal, aquela com o teto em forma de cúpula.
Robert apareceu na escada e pediu que ela subisse.

- Você sumiu... – disse Robert enquanto Taylor subia as escadas – por onde andou depois do intervalo?

- Não importa! – Taylor respondeu beijando calorosamente o namorado.

- Tudo bem... – ele correspondeu ao beijo.

- Eu senti tanta falta do seu beijo desde o dia em que dançamos na praça.

- Eu também. – ele riu ao se lembrar da ocasião e voltou a beijar a garota – É melhor irmos para o meu quarto, afinal essa casa vive cheia de gente estranha e meu pai ainda não sabe nada sobre o namoro.

- Sem problemas. – ela pegou na mão dele e os dois foram para o quarto – Você deve sentir falta dele.

- Do que você está falando? – Robert não entendeu a quem Taylor se referia.

- Do seu pai, eu digo, ele parece sempre tão ocupado e recebe pessoas o dia todo. Vocês têm tempo para conversar, se divertir?

- Na verdade, ele acha que me sustentar e pagar as coisas que peço já é suficiente.

- Pelo menos você sabe que ele está ali.

- Sim... o milionário administrador Sr. Campbell está ali sempre. Mas o Sr. Campbell pai só aparece quando há tempo.

- Eu entendo o que você sente.

- Seu pai não é assim, Taylor. Ele pode ser bravo, mas está sempre presente.

- Esqueceu que a minha mãe morreu há cinco anos?

- É verdade, me desculpe. – ele a abraçou – Mas já faz bastante tempo... você ainda sente saudades?

- É claro que sim. Já superamos a ausência dela, mas é inevitável pensar como algumas coisas poderiam ser diferentes se ela ainda estivesse lá. – Taylor se assentou na cama.

- Na maioria das vezes em que eu e meus pais estamos conversando, não é possível terminar o assunto. Sempre aparece algum obstáculo para tirá-lo de perto de mim. Compromissos, telefonemas, visitas, refeições que não podem esperar por causa de reuniões que ele precisa presidir depois. – ele se assentou ao lado dela.

- Robert, eu sinto muito.

- Eles nem têm mais tempo para brigar comigo. Posso fazer o que quiser: brigar na escola, tirar notas ruins, chegar em casa a qualquer hora, pois há sempre outros assuntos mais urgentes para serem tratados. Às vezes, tenho inveja quando os pais dos meus colegas dizem: “Estou de olho em você.” ou “Isso não vai ficar assim, mocinho.” Eu sei que sou injusto por pensar assim, mas se pudesse arranjaria uma maneira de ficarmos pobres, talvez eu recebesse mais atenção.

- Não diga isso, Robert. Seus pais te amam e eles não precisam passar por dificuldades para provar isso para você.

- Eu sei... sou injusto por pensar assim.

- Sim, você é. Mas não se culpe por isso. Apenas tente superar essa situação de maneira que você próprio não se julgue um injusto.

- Tudo bem, vou tentar.

- E falando em injustiça, - Taylor abaixou a cabeça – eu vim até aqui para pedir desculpas e admitir que eu fui injusta ao desconfiar de você.

- Eu perdôo, mas... e a lição que você acabou de dar sobre superar os fatos e não me julgar um injusto? – ele riu – Ela não serve para você, também?

- Sim, serve para todos. E você não entendeu o que eu disse. Não me julgo uma injusta, apenas agi injustamente e agora estou limpa, alegre e mais confiante do que nunca.

- Acho que começo a entender.

- Robert, você me faz feliz e é por isso que vim me desculpar. – ela o abraçou – E como eu mesma estraguei a minha festa, quero convidá-lo para comemorarmos neste final de semana, que tal?

- O seu aniversário é daqui um mês, Taylor.

- Eu sei... será uma comemoração adiantada.

- Entendo.

- Na verdade, meu pai irá viajar nesse sábado e esse é o real motivo pelo qual temos que aproveitar e fazer tudo nesse final de semana.

- Aceito o convite! – Robert riu e levou Taylor para conhecer o resto da casa.

Os dois andaram pelos cômodos enormes da residência até chegarem ao escritório do Sr. Campbell. Robert bateu e encontrou o pai assentado numa mesa. Ele lia alguns papéis e parecia, como sempre, sério e preocupado.

- Robert! – Taylor sussurrou no ouvido do namorado – O que você vai fazer?

- Boa tarde, meu filho! – disse o Sr. Campbell guardando os papéis e levantando-se para se assentar em um sofá maior.

- Oi, pai. – Robert se aproximou do sofá – Nem parece que moramos na mesma casa, não é?

- Sim... não nos vemos desde ontem, quando eu e sua mãe tentamos conversar com você e fomos interrompidos.

- Pois é... – ele se assentou e chamou Taylor – há sempre um compromisso atrapalhando nossas conversas.

- Exatamente, por isso seja breve pois estou esperando o prefeito para uma reunião muito importante.

- Ok...

- Eu acho que ele quer que eu me candidate nas próximas eleições. Com o apoio dele e a minha própria influencia seria fácil assumir a prefeitura de Wilmington e facilitar algumas coisas para nossos negócios. – ele falava com entusiasmo.

- Você não pretende aceitar, pretende?

- É claro que não! Por enquanto, já é o bastante “atuar por trás das câmeras.”

- Atuar por trás das câmeras? – Robert não entendeu.

- É... conseguir o que eu quero apenas convidando o prefeito para tomar um café é algo muito simples, que não me compromete nem me coloca debaixo dos holofotes da política nessa pequena cidade.

- Isso é um tanto complexo para mim, pai! – Robert riu.

- Eu sei. – O Sr. Campbell continuou sério – Já percebi que você não nasceu para isso.

- Me desculpe.

- Não precisa se desculpar. – ele se virou para Taylor – E quem é a garota?

- É por isso que eu vim até aqui. Quero te apresentar a minha namorada: Taylor Sandler.

- Prazer em conhecê-lo, Sr. Campbell. Ouvi o seu filho falar muito bem do senhor. – Taylor o cumprimentou com um aperto de mão.

- O prazer é meu. Você é uma Sandler, certo?

- Sim, sou... algum problema?

- Ela é descendente da família Sandler que fundou a cidade, pai.

- Eu já imaginava. Mande um abraço para seu pai.

- Você conhece o Sr. Sandler? – Robert perguntou.

- É claro. Estudei com seu pai no último ano da escola. Além disso, conheci, também, sua mãe. Ela era uma mulher muito especial para comunidade de Wilmington. Sempre engajada nos projetos, lutando pelos bens e interesses da cidade. Foi uma perda enorme.

- Eu sei. – Taylor suspirou – Era, também, uma ótima mãe.

- Bem... – O Sr. Campbell olhou no relógio e levantou-se antes que Taylor acabasse de falar. – acho que já está na hora de vocês partirem. Tenho muitos problemas para resolver hoje e o prefeito já deve estar chegando.

- Tudo bem, pai... – Robert parecia desapontado.

- Tchau, Sr. Campbell. – Taylor deu um sorriso simpático – Bom trabalho!

- Obrigado. Robert, ainda temos que conversar sobre aquele assunto. Quando eu tiver um tempo livre, te procuro.

- Bom trabalho. – Robert saiu cabisbaixo e calado.

- Isso não foi legal. – Taylor deu uma gargalhada.

- Só queria que você visse que eu não estava mentindo quando comentei sobre os compromissos e as reuniões. – Ele riu com ela.

- Mas ele é um homem legal.

- Sim. Desde que você não fique no caminho dos interesses dele.

- Vamos mudar de assunto. – Taylor entrou na primeira porta que viu.

- É você quem manda, tigresa. – eles riram.

- Que lugar é esse? – ela perguntou.

- Uma sala de leitura abandonada. Ninguém costuma vir aqui.

Eles se sentaram em uma poltrona empoeirada e ficaram ali. Eram como dois amantes que não se viam há muito tempo, mas com um amor infantil e puro. Apenas se olhavam em silêncio enquanto um acariciava o cabelo do outro. A pouca luz que entrava pelos vitrais da janela batia em um espelho e se espalhava pela parede e pelas estantes com livros das mais diversas cores. E sentados ali, acabaram adormecendo um nos braços do outro.

Quando acordaram já estava anoitecendo e Robert se ofereceu para levar Taylor. Foram caminhando e ao chegarem na casa da garota se despediram com um longo e apaixonado beijo.

- Amanhã de manhã passo aqui para irmos para a escola.

- Combinado, Robert. Boa noite.

- Boa noite.

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Como combinado, Robert levou Taylor para a escola e, sob os olhares de todos que estavam no pátio, entraram na escola juntos. Enquanto andavam pelo corredor viram Susie passando. De longe, ela lançou um sorriso extremamente sedutor para Robert sem que Taylor percebesse e veio correndo na direção dos dois para abraçar a amiga.

- Ah... – ela parou perante eles e os mirou da cabeça aos pés – vocês formam um belo casal! Lindos.

- Obrigada, amiga!

- E você, Robert... – Susie disse virando para o namorado da amiga – está, como sempre, arrasando!

- Ei, Susie! – Taylor se irritou rindo – Ele já é meu. Pode tirar os olhos.

- Me desculpe. – elas riram juntas – É inevitável comentar.

- Apenas comente então! – a garota percebeu o desconforto do namorado – Algum problema, Robert? Você parece incomodado.

- Não. – ele respondeu tentando disfarçar os sentimentos que estava tendo por estar entre Susie e Taylor, a namorada e a amante – Vocês, mulheres, falam demais e me deixam assim recatado.

- Não falo não! – ela se defendeu e disse rindo no ouvido de Robert enquanto saía – Ai de você se eu resolvesse falar tudo o que sei.

- Tchau, Susie. – Taylor gritou ao vê-la saindo sem de despedir.

- Desculpe-me, amiga. Já ia me esquecendo: Tenha um bom dia, menina dos olhos dourados. – e saiu desfilando divinamente enquanto deixava para trás o casal boquiaberto. Robert boquiaberto pela situação que acabara de passar e Taylor boquiaberta por não entender as atitudes de Susie.

- Há algo errado com Susie. Ela não costuma agir assim comigo.

- Talvez devamos nos afastar dela um pouco, Taylor.

- Sim. Ela deve estar estranhando o fato de que não estou mais exclusivamente disponível para ela. Ou seja, agora tenho que dividir o tempo que passávamos juntas com você, também.

- Deve ser isso! – o namorado concordou sem pensar.

- Taylor! – Peter gritou do outro lado.

- Onde está a Jess? – Taylor estranhou o fato dos dois não estarem juntos.

- Vem vindo ali. – Robert apontou para a garota que se aproximava – Tudo bem, Peter?

- Tudo bem sim, Robert! Então já assumiram a relação perante todos?

- Finalmente, nada de segredos. – a garota sorriu.

- Exatamente! Nada de segredos. – Robert se entristeceu por ter que carregar consigo um segredo que, se descoberto, mais cedo ou mais tarde acabaria com seu relacionamento. Como poderia ser tão tolo de deixar se envolver dessa maneira com Susie?

- Jessica, tudo bem? – Taylor perguntou.

- Ótimo! Tudo ótimo... e pelo visto vocês estão melhor ainda, não é verdade?

- Sim! Parece que tudo começou a ficar mais claro entre Robert e eu ao ponto de decidirmos ficar juntos na frente de todos.

- Fico feliz por você, Taylor. Por vocês dois.

- E então... – Peter começou – como passou desde ontem?

- Apesar da vergonha por ter pensado coisas que não estavam acontecendo, acabei superando essa história de tal maneira que estou me sentindo radiante esta manhã!

- Esta é a Taylor Sandler que eu conheço! – disse Jessica arrumando a franja da amiga.

- E para completar todo esse pico de auto-estima, resolvi confirmar a festa para esse final de semana.

- Que ótimo! – Jess pulou balançando as mãos de felicidade – O que quer que eu faça? Posso ficar com a parte dos convites? Você sabe a minha eficácia em espalhar notícias boas, não sabe? De qualquer maneira, quero participar de tudo! Bebida, comida, música, enfeites, convites e o que mais for preciso!

- Há uma maneira de eu te recompensar ou mostrar todo o meu amor por você, Jessica? – Taylor abraçou a amiga – A cada palavra que você me diz, vejo que posso confiar mais e mais em você. Obrigado pela sua amizade!

- Eu não quero prova, nem nada em troca. Somos amigas e poder te ajudar é mais que uma obrigação, é um prazer sem medidas para mim.

- Robert, vamos aproveitar que as amigas estão entretidas com a festa para eu te apresentar a nossa turma. Você vai passar a andar mais com a gente agora que está com a Taylor. – disse Peter puxando o namorado da amiga.

- Peter é tão amigável! – Jess suspirou.

- E você está perdidamente apaixonada pelo seu melhor amigo. – as duas riram – Pelo menos tente disfarçar um pouco.

- Porque será que todos percebem, menos ele?

- Você sabe como o Peter é distraído. Mesmo que você dissesse tudo para ele, ainda assim aquela cabeça de vento teria dificuldades para entender que você está caidinha por ele. Por isso, acho melhor você começar a agir em vez de ficar suspirando as qualidades do seu amado pelos cantos.

- Concordo... – ela parou pensativa – em parte! Afinal, ele não é cabeça de vento.

- Claro que ele é! – ela riu.

- Mentira. Você quer me irritar. – Jessica falou e agarrou a amiga pela cintura fazendo cócegas.

- Você sabe que eu odeio cócegas. – ela falava dando gargalhadas.

- E eu odeio que fale mal do Peter! – continuava fazendo cócegas na amiga.

- Peter cabeça de vento! – Taylor conseguiu de soltar e saiu correndo pelo corredor repetindo a frase, enquanto Jessica a seguia furiosa.

Na escola, os dias seguintes se passaram sem nenhum acontecimento importante, fora o fato de Susie continuar agindo de maneira estranha com Taylor. Já que a amiga agia dessa maneira, ela decidiu não chamá-la para ajudar na organização. De qualquer modo, Taylor a convidou para a festa, relembrando sempre que podia.

Tudo estava devidamente encaminhado. O Sr. Sandler confirmou a vinda da avó no domingo, logo viajaria no sábado para buscá-la, o que deixaria o caminho livre para o acontecimento da comemoração.

A relação entre Robert e Taylor parecia estar no auge e os dois desfilavam sempre juntos pela escola, para o contentamento daqueles que admiravam o lindo casal. De fato, formavam um par que se destacava: ele, moreno com olhos escuros e um corpo forte. Ela, com cabelos e olhos claros e corpo de belas curvas. Parecia um casal que tinha acabado de sair de um filme de Hollywood. Bonitos, populares e felizes.


"abre aspas"

11:11

O "abre aspas" desse capítulo foi escrito pela Gabriella Jude. Simplesmente fantástico o talento dessa escritora. Recomendo MTO o blog dela. www.outndabout.blogspot.com

Vlw msm, G. Jude!

Eu o amo. Sei que esse é um péssimo modo de começar uma carta, mas eu o amo. Amo com todo o meu cansaço e tudo o que dói em mim. Com as cicatrizes que me causaram e as que eu mesma provoquei. Com as todos os membros, todas as partes, até as que se despedaçaram pelo caminho. Amo graças às lições do passado, em cada decisão do presente e nas esperanças perigosas do futuro.

E porque amo, tenho essa horrível tendência de me tornar um pouco arisca. Nunca ame uma coisa selvagem, eles dizem, porque ela parte. Mas eu juro que não quero partir. Eu juro que quero ficar, e que isso nunca acabe. Eu juro que quero fazer promessas. Que quero dizer as palavras proibidas, que quero ignorar todos os meus instintos que dizem: corra. Meus pés estão estáticos no chão porque não vou a lugar nenhum. E talvez eu tenha que lutar contra mim mesma, tudo bem. Talvez eu tenha que me livrar desse meu jeito. Sim, eu com certeza devo descartar esse medo.

E então eu vou mergulhar em queda livre. Sem abrir as asas para fugir, sem abrir os olhos sem espiar o chão abaixo. Então eu vou deixar que essa luz confusa, difusa, ilumine o céu pra você, se você quiser. Então eu vou te escolher de novo a cada manhã. E vou te perdoar o coração partido, se você perdoar o meu; vou entender que você pôde amar de novo assim como eu pude. Vou ser a pessoa que eu sei que sou e você espera que eu seja. Me perder dentro disso, cega e alucinada como sempre fui. E eu vou sofrer por você, chorar por você, aceitar toda a dor, e lutar contra todas as barreiras.

Eu só preciso que você dê o primeiro passo... e então eu te sigo, não vou embora agora.


(As opiniões e idéias expressas nessa seção são de inteira responsabilidade do autor do artigo)


7.


Mas, fora da escola algumas coisas interessantes aconteceram. Taylor estava sentada em uma lanchonete tomando um milkshake de chocolate com Jessica. Faltavam dois dias para a festa e as duas conversavam sobre as músicas que seriam tocadas na comemoração. Jessica insistia em chamar uma banda para apresentar algumas músicas ao vivo. De inicio, Taylor achou algo exagerado, mas depois considerou os argumentos de Jessica, que falava sem parar. Enquanto Jess discursava empolgada Taylor olhava para fora pela janela de vidro.

- Taylor! – Jessica gritou – Estou falando com você. O que há de errado? Você não costuma me deixar falando sozinha.

A garota simplesmente apontou para fora. Jessica parou de falar para ver o que estava acontecendo. Um lindo carro havia acabado de estacionar na frente da lanchonete e de dentro dele saía um rapaz que aparentava ter cerca de 21 anos. Era alto, magro, tinha o cabelo preto e bastante liso. Os lábios eram finos e os ângulos do rosto bem definidos de modo que o rapaz tivesse uma aparência elegante e ao mesmo tempo rústica. Uma camisa de botões estava, agora, para fora da calça, com o primeiro botão aberto e as mangas dobradas até o cotovelo, mostrando a pele bronzeada que combinava com o cabelo escuro. Não dava para saber a cor dos olhos, já que ele usava óculos escuros.

- É só um cara, Taylor. Qual o problema?

- Não é só um cara, Jessica. É o cara!

- Ele nem é bonito.

- Eu sei, mas me chamou a atenção.

- Eu prefiro o Robert. – Jessica riu.

- E quem disse que eu não prefiro?

- Você ficou tão impressionada pelo estranho com carrão, que eu achei que era um amor a primeira vista.

- Isso não existe, Jessica. Eu só o achei uma pessoa interessante. Ou vai dizer que o estranho do carrão não merece a devida atenção?

- Tudo bem. Confesso! Não é de se desperdiçar.

- Jessica, ele está entrando. Tomara que tire os óculos para vermos os seus olhos.

- Taylor, vamos voltar a nossa conversa sobre a festa.

- Isso! Tive uma idéia. Vamos convidá-lo para a festa.

- Ele não vai querer. É muito mais velho que nós.

- No máximo quatro ou três anos. Não custa nada tentar, concorda?

- Então, chame-o. Duvido que vai aceitar.

- Com licença, garotas. Não estou acompanhado e gostaria de conversar com alguém. Posso me assentar aqui com vocês? – para a surpresa das duas, o estranho estava com um lanche na mão bem ao lado da mesa.

- Claro! – Taylor demorou um pouco para responder, como se não acreditasse que o estranho estivesse vindo falar com elas.

- Eu ouvi falar alguma coisa sobre festa?

- Meu nome é Taylor. Eu e minha amiga Jessica estávamos justamente discutindo sobre uma festa que faremos na minha casa depois de amanhã.

- Desculpe-me não ter me apresentado. – ele deu um pequeno sorriso usando apenas a metade esquerda dos lábios – Me chamo Cristopher.

- Nunca te vimos por aqui. – Jessica começou – por acaso vem de outra cidade?

- A minha história é um pouco grande e confusa. Vão querer mesmo escutar?

- É claro! – Taylor se entusiasmou.

- Com uma condição. – ele fez um ar de mistério.

- Qualquer uma. – a garota sorriu.

- Não tenho nada para fazer no sábado à noite. Eu conto a história e vocês me chamam para a festa.

- Tudo bem. Ela já ia te chamar de qualquer jeito. – Jessica deu o último gole no milkshake.

- Combinado? – Taylor estendeu a mão para o estranho.

- Combinado! – ele apertou a mão da garota.

Ela ficou segurando a mão dele por alguns instantes e pode percebeu como era macia. Era um aperto de mão forte e que produziu na garota uma espécie de arrepio. O mesmo arrepio Cristopher sentiu. Soltaram as mãos e ele começou:

- Nasci em Wilmington e foi aqui mesmo que cresci. Meus pais são ricos e eu decidi que continuar nesse lugar seria um grande desperdício. Essa cidade era pequena demais para todo o meu potencial e desejo de crescer. Não sou ganancioso, digamos que simplesmente não consigo nunca me conformar com a situação em que me encontro, ou seja, sempre acredito que podemos fazer mais e ir mais além.

- Interessante. – Taylor estava deslumbrada, afinal encontrara alguém que pensava parecido com ela.

- Você parece ser bem convencido, não acha? – Jessica implicou sem ofendê-lo.

- A maioria das pessoas acham isso, mas na verdade sou muito realista e sincero no que diz respeito às minhas qualidades. Sei do que sou capaz e sei, também, até onde posso ir.

- E até onde você pode ir? – Taylor queria testá-lo.

- Preste atenção. – ele bebeu um gole de refrigerante para pensar um pouco – Eu sou o meu limite.

- Explique melhor. – a garota riu.

- Não existe ninguém no mundo que possa me dizer até onde posso chegar. Eu posso ir até onde eu quero. Traço meus ideais, um por um, degrau por degrau. E como sempre quero ir além de onde estou, minha escada tem infinitos degraus.

- Você é uma pessoa bem esquisita. – Jess comentou rindo.

- Se um dia você achar que já chegou onde queria chegar e que não precisa mais evoluir, já está pronto para morrer. Um homem sem sonhos é o mesmo que um cadáver podre.

- Mas, você não contou a sua história. – Taylor estava sedenta por desvendar os mistérios daquela figura.

- Como estava dizendo, Wilmington não me oferecia perspectivas de crescer. Decidi juntar um pouco de dinheiro e sair daqui.

- E você tinha quantos anos?

- Não cheguei a me formar. Essa escola não ensina para a vida. Passe uma semana longe de casa, sozinho, e veja que as fórmulas só servem para dar emprego aos professores que as escrevem no quadro.

- Mas seus pais são ricos. As coisas são mais fáceis para você. – Jessica contra-atacou.

- Juntei o meu próprio dinheiro antes de sair de casa. Depois foi fácil fazê-lo se multiplicar, afinal há pessoas precisando esquecer os problemas em todo lugar por onde passei. O carro aí fora foi conquistado com o meu próprio esforço.

- Já entendi. – Jessica parecia disposta a desmascará-lo – Você vendia drogas.